sábado, 9 de julho de 2011

continua 1

                    Carregando as espingardas para voltar a plantação de melancia, onde supostamente MIRALDO havia visto no dia anterior o movimento de um animal qualquer. Nem mesmo ele conseguiu definir a que espécie pertencia. Segundo ele a passagem foi tão rápida que ficou indeciso em sua definição. Pela  quantidade de pólvora que ele estava colocado no cano, acreditava ser um animal de porte avantajado. De uma maneira ou de outra, aquilo me deixava preocupado. Pedi que ele não colocasse mais, pois o cano poderia não suportar.
                    Colocamos no bornal, vidro de pólvora, três vidros com variados tipos de chumbos e um saquinho contendo mechas de buchas da casca do coco. Coloquei  o bornal a Tira-colo e começamos nossa jornada. Cruzamos vários quintais, até chegar ao pé do primeiro morro de areia.
                      Em poucos minutos chegamos ao topo, e dessa posição já dava para perceber a grande plantação de melancias. Descansamos um pouco, olhamos um para o outro, esperando que alguém desse una nova sugestão, e como nada foi dito nem perguntado, Começamos a descer a duna. Na descida "Todo santo ajuda", foi bem rápida.
                       Miraldo, em dado momento, pediu para que evitasse deixar entrar areia dentro do cano, porque poderia entupir e o tiro sair pela culatra.
                       A partir daquele momento, era imprescindível o silêncio. Não se falava nada, tudo era feito através de gestos. Começamos a sentir o cheiro da fruta madura. Aquele odor atraia toda espece de animal, inclusive galinhas, pombas, etc. Estávamos a duzentos metros da plantação. A preocupação de Miraldo era tão grande que evitava pisar em folhas e galhos secos, para não fazer ruído. Enfim, era a caçada que ele sempre esperou. Ia trazer o troféu, para mostrar aos amigos da Escola que ele não era apenas um Caçador de borboletas, como era conhecido pela turma que pegava no seu pé.
                        Já se percebia as grandes melancias, apetitosas, ha 20 metros de distancia. De repente, ele se vira para   trás, pede silêncio com o dedo na  boca, fica de joelho, o que me obriga a ficar também. Vasculho até onde minha visão alcança, más nada vejo, mesmo assim fico atento e procuro em Miraldo o motivo daquela parada repentina. Olho para ele e nada percebo. Ele estava impassível, parecia uma estátua, com a arma pronta para disparar. Aquela tensão, deixava meu coração com batidas mais fortes. Cheguei a pensar ouvir as batidas aceleradas do coração de Miraldo.
                         Parecia que o tempo parara para esculpir uma estátua em memoria aquele Pequeno grande caçador. MIRALDO SANTOS SILVA. Acordamos daquele estupor momentâneo, ao perceber um ruido forte que ia aumentando, pouco a pouco, e  fazia prender nossa respiração.
                         De repente, um tiro ecoou pelas dunas, e se repetia, em uma reverberação constante e sem limites. Me imaginei em um campo de batalha. Que um morteiro havia explodido próximo a nossa trincheira, e que aquela nuvem de fumaça e o odor de pólvora queimada justificava meus pensamentos.
                         Passado aquele momento de imaginação e fantasia ouvi a voz do amigo, meio trêmula. Não estou vendo nada, era meu amigo falando para mim. Olhei, vi a espingarda jogada no chão, com a culatra parecendo uma flor a desabrochar, rompida pela supercarga . Miraldo tinha recebido no rosto parte a carga de pólvora. Seus olhos, continuavam fechados, já que a pólvora não o deixava abri-los. O rosto parecia uma pintura em alto relevo, ocasionada por aquela massa de sangue e pólvora. Retirei minha camisa e comecei a limpar o sangue do rosto de meu amigo. Não sabia se ria pela graça daquele espetáculo  Dantesco,ou se chorava de preocupação por imaginar que a descarga tinha ou não atingido a visão dele.
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                           Passado aquele momento de apreensão, ele me olha com um sorriso de quem esta bem e pede de uma maneira autoritária¨"Não conta nada disso a meus amigos" eles vão me gozar o tempo todo. Depois me pergunta: Consegui acertar? Olhei para ele, dei de ombro, acertar o que? A única coisa que conseguiste acertar foi teu próprio rosto. Olha ali na tua frente; falou para mim. E lá estava, toda ensanguentada, uma raposa vermelha de tanto sangue derramado. Um grito de guerra ecoou pela dunas,"EU CONSEGUIIII..EU CONSEGUI.......!!" foi se reverberando, se propagando, até..... Esse grito, segundo pessoas de crédito, foi ouvido por pescadores que se encontravam do outro lado da Lagoa Mundaú.
                            Essa história deve ter sido contada a seus filhos, a seus netos. Algum dia , estarei com meu amigo, para confirmar a realidade dessa historia, junto a seus netos. Seu apelido ficou como o Sombra Verde,  pela quantidade de pigmentos verdes na sua face. PONTAL DA BARRA-MACEIO, 12 OUT 1949.

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